Fundada em abril de 1966 com o objetivo de coordenar no Brasil as atividades da “Nihon Kaigai Ijukazokukai Rengokai – Kazokukai” (Federação Japonesa das Famílias de Emigrantes Ultramarinos) – a Kenren (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil) é hoje sinônimo de Festival do Japão. Mas no início foi bem diferente.
Apesar de ser uma referência quando o assunto é o maior evento de cultura japonesa do mundo – a última edição presencial do Festival do Japão, em 2019, atraiu um público estimado em 192 mil visitantes pelos organizadores, a Kenren tinha como uma de suas atividades iniciais prestar assistência no resguardo de direitos dos que emigraram para o Brasil, após ter retornado do exterior onde permaneceram durante a guerra; organizar e enviar delegações para visitar a terra natal, de membros formados pelos primeiro imigrantes; oferecer assistência aos grupos de famílias em suas visitas de solidariedade aos seus filhos emigrados ao Brasil; selecionar e enviar estagiários técnicos e bolsistas em Províncias; atender as missões de pesquisa do Governo Central ou das Províncias e promover campanha de reconhecimento do direito ao voto nas eleições do Japão aos imigrantes.
Desde então muita coisa mudou e as atividades da Kenren também. Segundo Toshio Ichikawa, 16º presidente da entidade, hoje as atividades da Kenren tem como base, “cultura e associação, legado e valores”.
Além de manter e preservar o Memorial em Homenagem aos Imigrantes Pioneiros Falecidos, localizado no Parque do Ibirapuera (zona Sul de São Paulo), onde todos todos os anos, no dia 18 de junho, é celebrado o culto religioso em memória aos antepassados falecidos; e o Monumento do Desembarque de Imigrantes Japoneses em Santos, a Kenren também apoia duas outras importantes atividades para a comunidade japonesa: o gueitebol e o concurso de oratória. Realizados, respectivamente, em parceria com a União de Gueitebol do Brasil e o Centro Brasileiro de Língua Japonesa. “O Concurso de Oratória tem como objetivo dar oportunidade aos jovens de desenvolverem a habilidade de falar em público e melhoria na comunicação”, diz Ichikawa, destacando que, “com a chegada dos jovens, aliás, temos que apoiá-los nas conexões com jovens de outras entidades, nacionais e internacionais, aumentando o networking e o crescimento social-profissional-humanismo”.
Futuro promissor – Para ele, “o leque de atividades da Kenren deve aumentar nos próximos anos. “O futuro é promissor”, prevê Ichikawa que, no entanto, reconhece que o Festival do Japão cresceu tanto que passou a dominar as atividades da entidade.
Ichikawa explica que o Festival do Japão ganhou uma dimensão gigantesca, a ponto de ser considerado um dos principais eventos do Estado de São Paulo – e não só da comunidade nipo-brasileira – além de ser uma das principais fontes de recursos para a maioria dos kenjinkais. “Com a projeção do Festival do Japão, a Kenren consegue motivar e agregar os jovens em projetos voltados à realidade deles. São novos sonhos e novos desafios”, conta Ichikawa, que assumiu a presidência da entidade em março do ano passado, sucedendo Yasuo Yamada.
Desafios – Apesar da pandemia, ele conseguiu viabilizar a criação do Kenren Jovens Líderes, o Departamento de Jovens da entidade que, como missão de estreia, organizaram, em novembro de 2019, a Live Festival do Japão. Live que, aliás, marcou também o lançamento do 47 Cultural, um portal permanente para promover a cultura das 47 províncias do Japão.
Para Ichikawa, o grande desafio da entidade daqui para frente será “manter o equilíbrio entre as gerações, mais conservador com aqueles que estão acostumados com o efêmero, mas contínuo”.
Mundo www – “Isso acontece porque os jovens vivem no mundo dinâmico, sem fronteiras, é tudo aqui e agora, tudo interligado, isto é, um mundo www”, observa, acrescentando que, além de inserir os jovens nas atividades, uma das grandes preocupações da Kenren – e talvez, um desafio mais imediato – será o de repensar e recriar o Festival do Japão , “ajustados à nova realidade pós-covid e evoluir gradualmente”.
“Devido ao efeito da Covid-19 na economia, os governos sustaram os benefícios de incentivo à cultura, assim perdemos muito na receita do Festival do Japão”, diz Ichikawa, destacando que outra missão da Kenren é fazer com que os kenjinkais mantenham relação com suas respectivas províncias-mães.
“As própria associações estão se distanciando quando o certo seria manter essa relação, independente das gerações que estão vindo”, observa ele, afirmando que um dos maiores patrimônios da comunidade nipo-brasileira ainda são os valores presentes na educação, cultura, artes e espores. “É um legado que precisamos preservar”, explica.
Principais atividades históricas da KENREN
Memorial em Homenagem aos Imigrantes Pioneiros Falecidos
Graças à contribuição e participação de muitos, no ano de 1975 foi construído o Memorial em homenagem aos Imigrantes Pioneiros Falecidos, no Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Este Memorial que reúne centenas de milhares de almas dos imigrantes pioneiros, hoje é tido como base sentimental da imigração japonesa no Brasil. Ao longo desses anos, recebeu honrosas visitas de Suas Majestades Imperador e a Imperatriz, e demais membros da família imperial, bem como as altas autoridades governamentais do Japão, reverenciando as almas dos pioneiros da imigração.
O culto religioso que se realiza anualmente no Memorial, no dia 18 de junho, “Dia Nacional da Imigração Japonesa” pela Lei Federal nº 11.142 de 25.7.2005, já se tornou um evento oficial, indispensável na comunidade nipo-brasileira, e o Memorial em Homenagem aos Imigrantes Pioneiros Falecidos é o mausoléu de repouso das almas dos imigrantes pioneiros da comunidade nipo-brasileira. Esse monumento é um marco histórico da imigração japonesa no Brasil e pertence a todos os imigrantes e seus descendentes.
Monumento do Desembarque de Imigrantes Japoneses em Santos
De 18 de junho de 1908, quando a primeira leva de imigrantes desembarcou do Kasato Maru no porto de Santos, até 27 de março de 1973, quando o último navio Nippon Maru trouxe os últimos 256 imigrantes, aproximadamente 250.000 japoneses emigraram-se para Brasil.
Na ocasião do 90º Aniversário da Imigração Japonesa (1998), para fazer parte da comemoração dessa efeméride, foi sugerida a construção de Monumento do Desembarque de Imigrantes Japoneses em Santos, local considerado como ponto de origem da imigração japonesa no Brasil, E em 21 de junho de 1998, o Monumento foi solenemente inaugurado na Praia do Boqueirão e em 18/10/2009 foi reinaugurado no Parque Municipal Roberto M. Santini.
Visita aos berços das histórias das imigrações japonesas
Esta viagem turística-cultural teve início na ocasião da comemoração do 80° Aniversário da Imigração Japonesa (1988), sendo a primeira na Zona Noroeste, a segunda na Zona Paulista, terceira na Zona Mogiana, regiões onde os primeiros imigrantes japoneses foram assentados.
Em 1998 empreendeu-se uma viagem ao Peru. Em 2001 participou-se da inauguração do Monumento de Embarque dos Emigrantes, construído no porto de Kobe.
Nos intercâmbios com essas comunidades, tem proporcionado oportunidades de agradáveis reencontros surpreendentes com os visitantes, e pretende-se dar continuidades ao empreendimento.
Em 2019 foi realizada viagem à Califórnia – EUA, para encontro com a comunidade nikkei de Los Angeles e conhecer o museu Histórico da comunidade durante a Segunda Guerra Mundial, que conta a vida dos imigrantes japoneses nos Campos de Recolhimento.
Essa foto foi tirada no marco, erigido pelos japoneses, no Campo de Recolhimento de Manzanar [onde mais de 110 mil imigrantes japoneses foram recolhidos], hoje Parque Nacional de Manzanar. Ao fundo a Serra Nevada, e é um local inóspito, seco, frio e com muita ventania o dia todo.
Confira a relação de todos os presidente da Kenren
1º Kumaki Nakao Assoc. Kumamoto Kenjin do Brasil (1966-1970)
2º Yonezo Ueno Assoc. Fukuoka do Brasil (1970-1972)
3º Shichiro Wada Assoc. Cult. e Rec. Nara Kenjinkai do Brasil (1972-1978)
4º Takuji Fujii Assoc. Cult. e Rec. Okayama Kenjin do Brasil (978-1984)
5º Yoshihisa Takano Assoc. Cult. e Rec. Yamanashi Kenjin do Brasil (1984-1990)
6º Muneyoshi Hada Assoc. Aichi do Brasil (1990-1992)
7º Chuyu Nakanishi Assoc. Ishikawa Ken do Brasil (1992-1994)
8º Yataro Amino Assoc. Cult. e Rec. Yamanashi Kenjin do Brasil (1994-2000)
9º Hiroshi Nishitani Assoc. Cult. Tottori Kenjin do Brasil (2000-2002)
10º Koichi Nakazawa Assoc. Miyagi Kenjinkai do Brasil (2002-2006)
11º Osamu Matsuo Assoc. Fukuoka do Brasil (2006-2008)
12º Akeo Uehara Yogui Assoc. Okinawa Kenjin do Brasil (2008-2011)
13º Akinori Sonoda Assoc. Cult. Kagoshima do Brasil (2011-2014)
14º Mikihisa Motohashi Assoc. Cult. Tottori Kenjin do Brasil (2014-2016)
15º Yasuo Yamada Assoc. Cult. Assistencial Shiga Kenjin do Brasil (2016-2020)
16º Toshio Ichikawa Assoc. Toyama Kenjin do Brasil (atual)