TEMPURÁ: Curiosidades e receita da fritura japonesa mais popular nos matsuris
Conhecido por sua massa leve e crocante, e seu recheio de legumes ou frutos do mar, o tempurá é um alimento típico do Japão que contorna a ideia de que todas as frituras devem ser apenas deliciosas e nem um pouco saudáveis. Sua popularidade é tanta que facilmente você irá se deparar com esse tipo de comida em meio aos festivais ou eventos orientais, quebrando o conceito de que refeições asiáticas são preparadas somente grelhadas, assadas ou cozidas.
A origem dessa fritura é um tanto quanto desconhecida por quem a consome e surpreendente a quem a conhece, isso porque a história começa com a influência portuguesa, sendo adaptada aos costumes e gostos japoneses.
História do tempurá

Anterior ao século XVI, as refeições fritas não eram incomuns no Japão, contudo, não eram utilizadas as massas para empanar os alimentos. Foi somente a partir de 1543 que a farinha e o ovo passaram a ser usados em frituras japonesas.
Nesse período, os portos japoneses eram fechados e limitados apenas para a comercialização com chineses e holandeses, porém, uma das embarcações chinesas direcionada a Macau mudou seu curso e desembarcou em Tanegashima, levando consigo três marinheiros portugueses. A partir de então, com a guerra civil acontecendo e o aparecimento de novos europeus no Japão, se iniciou a negociação de armas com Portugal.
A imigração portuguesa levou consigo não apenas os armamentos necessários à disputa, mas também uma nova cultura, costumes e tradições, como foi o caso da Quaresma, período de quarenta dias em que os católicos devem renunciar a carne vermelha em suas refeições.
Assim, durante essa prática, a alimentação desses indivíduos foi à base de tempurá com legumes e frutos do mar, o que atraiu a atenção dos japoneses que modificaram a receita de acordo com seus próprios hábitos e preferências.
Apesar disso, por algum tempo, o tempurá era consumido apenas pela nobreza, pois era frito em óleo, um ingrediente de alto custo. Com a chegada da Era Edo (1603 — 1867), esse privilégio passou a ser de todos, devido ao avanço da técnica de extração de óleo, sendo vendido em diversas barracas físicas ou Yatai (carrinhos móveis para venda de comida).
A influência de Portugal sobre o povo japonês só não se estendeu em outros aspectos, já que os imigrantes portugueses foram expulsos do Japão, para evitar a catequização e disseminação da religião ocidental no país.
Receita da massa

A receita da massa do tempurá costuma ser simples e básica para todos os tipos de recheios, logo, é importante seguir todos os passos e dicas corretamente para que assim seja feita a fritura leve perfeita adaptada pelos japoneses.
A princípio, separe alguns ingredientes:
- 1 xícara de farinha de trigo peneirada;
- ¾ xícara de água bem gelada, podendo conter alguns cubos de gelo;
- 1 ovo;
- Pitada de sal;
- 1 colher de sopa de amido de milho.
Em seguida, defina o recheio do seu tempurá, podendo ser apenas um ingrediente, como por exemplo: batata doce, berinjela, abóbora kabocha, brócolis, couve-flor, frango, camarão, entre outros; ou opte por misturar diversos legumes que devem ser cortados uniformemente para garantir um bom cozimento de todas as partes. Nesse caso, o mais comum é o uso de cenoura, cebola, repolho, vagem e, por vezes, camarão.
Para a mistura da massa, inicialmente, una o ovo à água e bata bem até formar uma espuma clara por cima. Junte a farinha, o sal e o amido de milho, mexendo delicadamente até ficar homogêneo.
Além disso, siga algumas sugestões importantes para degustar o tempurá perfeito:
- Aqueça bem o óleo para que sua fritura não necessite permanecer por muito tempo dentro da panela;
- Se possível, termine de fritar toda a massa em aproximadamente 30 minutos, pois quanto mais o tempo passa, mais a massa esquenta e passa a se tornar grudenta;
- Deixe o tempurá escorrer em uma grelha após fritar, essa etapa é essencial para que fique sequinho, crocante e leve;
- Sirva com algum molho, embora seja comum também comer apenas o tempurá, muitas pessoas apreciam adicionar um sabor a mais, portanto, que tal um molho shoyu ou alguma mistura com mirin e dashi? Caso prefira a segunda opção, procure ferver em uma panela ½ xícara de shoyu, ½ xícara de mirin, 1 ½ xícara de água, 1 colher de chá de hondashi e gengibre a gosto.
Conhecendo o seu modo de preparo e sabor não é difícil entender o porquê dessa fritura ter deixado de ser considerada apenas um lanche da tarde, para se tornar parte das refeições principais, já que além de leve e saborosa ainda garante uma certa sustância.
Curiosidades

Para acabar com as surpresas e oferecer mais conhecimento sobre essa fritura levemente saudável, aqui vai duas perguntas para refletir: consegue imaginar a origem do nome tempurá? Ou mesmo quais foram as mudanças japonesas realizadas em sua receita?
Respondendo a primeira questão, o nome “tempurá” tem origem controversa, porém, é suposto que deriva da expressão em latim “ad tempora quadragésima” que se refere à Quaresma, também chamada por “Dias de Brasa”.
Por outro lado, há quem diga que varia do termo português “tempero”, logo, é difícil concluir qual é a sua verdadeira história.
Sendo proveniente de um termo ou de outro, o ponto principal é o seu aparecimento no Japão que permitiu a existência de uma nova receita. Com o início do período Edo, não era permitido fazer frituras nas residências devido ao medo dos riscos de incêndio nas estruturas de madeira, assim a adaptação do lanche português ficou por conta dos chamados Yatai, que utilizavam óleos mais leves, como o de arroz, acrescentavam mais legumes e elaboravam uma massa mais leve e fina. Desse modo, surgiu o famoso tempurá japonês que traz uma sensação de simplicidade e sabor a quem consome, sendo adicionado também ao popular prato quente conhecido por donburi.
Então se agora há a curiosidade ou vontade experimentar ou simplesmente comer o tempurá, por que não fazer? Além de render uma boa quantidade ainda te trará uma grande saciedade e prazer, até porque um pouco de fritura também faz bem ao nosso corpo e à nossa gula, basta comer com moderação sempre.
(Mariana Kisaki)