“Vou me encontrar pela primeira vez com parentes distantes”, disse Levi Sato, de 32 anos, descendente da terceira geração que se mostrava um pouco tenso durante a espera pelo embarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Apesar da expressão triste por ficar longe da família, Ágatha Sayuri Murakami, de 22 anos, descendente da quinta geração, tinha um olhar que brilhava de expectativa: “Mal posso esperar para conhecer tudo. Estou bastante animada”.
Oferecido pela prefeitura provincial de Fukushima, o Estágio para Descendentes de Provincianos da América Latina e da América do Norte ocorreu entre os dias 22 a 31 de janeiro, com a participação de cinco países: Brasil, Estados Unidos, República Dominicana, Peru e Argentina.
Os estagiários conheceram os trabalhos de reconstrução da província após o Grande Terremoto do Leste do Japão e o acidente nuclear na usina Fukushima Daiichi. Também aprenderam sobre a cultura e a história locais, tornando-se uma experiência bastante proveitosa.
“Por que será que não fugi naquela hora? Ainda guardo essa pergunta, mesmo nove anos depois”. Quando Hideko Igarashi, de 72 anos, narradora do Salão Memorial de Soma, começou a contar sua experiência durante a catástrofe, a repórter sentiu um repentino aperto no coração.
Sobrevivente-relata-sua-experiência
Ela sobreviveu ao grande tremor de 11 de março de 2011. Mas uma hora depois, quando se encontrava na estrada de mãos dadas ao tio e ao marido, viu o mar subir violentamente.
Incapazes de se mover, os três foram engolidos pelo gigantesco e impiedoso tsunami. A fúria das ondas era imensa, o que fez ela soltar as mãos do tio e do marido. “Hideko!”, o marido gritou três vezes enquanto era arrastado pelas ondas. Ela gritou por ele, mas também foi levada pela água. Essa foi a última vez que viu o marido.
Os estagiários ficaram impressionados com o relato chocante, que foi traduzido para o inglês por um intérprete e foi liberado para os turistas ouvirem também.
Exposição com tecnologia de ponta mostra as medidas adotadas para terremotos
Para transmitir as gerações futuras as lições deixadas pelo terremoto, várias instalações foram criadas para promover a província de Fukushima e também estão disponíveis para turistas.
Por exemplo, o Centro da Província de Fukushima para Criação Ambiental, mais conhecido como Comyutan Fukushima, possui um auditório esférico de 360°, o segundo no mundo, exibindo imagens da rica natureza e cultura da província.
O Centro de Desenvolvimento de Tecnologia de Controle Remoto de Naraha trabalha para aprimorar a tecnologia remota em trabalhos de descomissionamento.
Dispositivos de controle remoto, como robôs, são imprescindíveis para desativar a usina Fukushima Daiichi, inacessível para pessoas. Os estagiários tiveram a oportunidade de explorar o interior da usina nuclear usando óculos 3D e experienciaram o que está sendo desenvolvido em termos de tecnologia de ponta.
O primeiro centro de treinamento de futebol do Japão, o J-Village, é o local onde a seleção japonesa faz seus treinos. Durante a Copa do Mundo de 2002, realizada no Japão e na Coreia do Sul, a instalação foi utilizada pela seleção argentina e, em 2007 e 2009, pela seleção chilena. Após o terremoto, o local foi reaberto em julho de 2018 e conta com um hotel de luxo e um campo de futebol coberto.
J-Village
Como símbolo da reconstrução de Fukushima, o J-Village será o ponto de partida para o revezamento da tocha olímpica, a partir de março. O local está aberto para visitação e os turistas certamente sentirão a “força dos japoneses para reconstruir a província”.
A jornada emocional em busca das raízes
Na tarde do dia 26 de janeiro, Levi Sato, com expressão tensa, aguardava no saguão do hotel quando Jun Sanada, de 83 anos, morador da cidade de Fukushima, entrou acompanhado.
“Seu bisavô é o primo do meu pai,Giuemon, que imigrou para o Brasil?”. Levi confirmou a informação e o idoso respondeu contente, “Então somos parentes”.
O irmão mais velho de Giuemon também imigrou para o Brasil e seus descendentes moram no Paraná. Já os descendentes de Giuemon Sato, incluindo Levi, moram em São Paulo, mas o contato entre as duas famílias continua até hoje, encontrando-se anualmente em uma grande festa.
Após uma hora de conversa, Levi lamentava a despedida, mas cumprimentou Jun e seus acompanhantes, trocando informações para manter o contato.
“Estou emocionado por finalmente encontrar com meus parentes. Quero vir ao Japão para investigar minhas raízes”, revelando seus planos para o futuro.
Tsurugajo, o castelo inexpugnável que resistiu ao ataque das forças do governo. Os estagiários tinham muita curiosidade para conhecer o castelo Tsurugajo, símbolo da cidade de Aizuwakamatsu que foi construído há cerca de 630 anos. Uma vista magnífica da cidade se estende do topo da construção de cinco andares. O castelo suportou por um mês o cerco das forças do novo governo na Guerra Boshin, último conflito civil no Japão, ocorrido há 150 anos.
Flores-de-cerejeira-e-Castelo-de-Tsurugajo
Posteriormente, foi derrubado pelo governo Meiji, mas reconstruído em 1965. Atualmente, a torre abriga um museu local. Do monte Iimoriyama pode-se ver a cidade ao redor do castelo Tsurugajo.
Durante a guerra civil, 19 membros do yakkotai (Unidade do Tigre Branco, grupo formado por jovens guerreiros de 16 a 17 anos) cometeram suicídio após uma discussão acalorada para decidir lutar contra o inimigo ou fugirem para o castelo, ao verem a cidade em chamas. Muitas pessoas visitam o monte para depositarem flores em seus túmulos.
Tsurugajo-no-inverno-cidade-de-Aizuwakamatsu.
Fukushima, a terra dos pêssegos doces e suculentos!
É difícil escolher um presente entre tanta variedade de produtos locais no Centro de Promoção de Produtos de Fukushima. Mas sem dúvida, a especialidade
de Fukushima são os pêssegos. Cultivado meticulosamente, a doçura da fruta em si é uma obra de arte, mas também existem produtos derivados como choux cream, gelatinas, sorvetes, daifuku (bolinho de arroz glutinoso recheado com pasta doce de feijão azuki), manju (doce assado e recheado com pasta doce de feijão azuki), sucos, entre outros. São tantos produtos dispostos nas prateleiras que nos sentimos felizes apenas em olhar.
Conhecida como a terra do pêssego, em Fukushima existem mais de cem variedades da fruta. A principal delas é a Akatsuki, com alto teor
de açúcar, polpa carnuda e suculenta. Além disso, a cidade de
Koorimachi é conhecida como a “capital do pêssego oferecido a família imperial”, por ter sido selecionada para oferecer seus pêssegos a família imperial japonesa por 26 anos consecutivos.
A melhor época é entre julho e agosto. Que tal experimentar os pêssegos de Fukushima quando visitar o Japão para os Jogos Olímpicos?
Fukushima, que reúne todas essas qualidades, é um produtor famoso da bebida. No Annual Japan Sake Awards, competição entre os melhores saquês, a província detém por sete anos consecutivos o primeiro lugar em número de rótulos premiados com o Golden Prize, premiação máxima do evento.
Um dos estagiários comprou mais de dez garrafas de saquê quando o grupo visitou a fábrica Suehiro Kaeigura, em Aizuwakamatsu. O rótulo Kaeigura Daiginjo, da mesma fábrica, foi premiado com o Golden Prize.
Ao todo, 22 rótulos foram agraciados com a premiação, como o Hirotogawa da fábrica Matsuzaki, o Kinsuisho da fábrica de mesmo nome, o Yuki Komachi da fábrica Watanabe, entre outros.
Ágatha, uma das estagiárias, comentou: “Achei que não conseguiria beber saquê, mas acabei gostando”. Talvez a deliciosa bebida ganhe mais adeptos.