‘Efeito Bolsonaro’ reduz bancada nikkei na Câmara dos Deputados. Eleitos em SP ‘se apresentam’

A eleição deste domingo (7), que já se desenhava como “atípica”, “diferente” e “estranha” terminou com um resultado bastante negativo para a comunidade nikkei. Independentemente do que acontecer no segundo entre os candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), as urnas já apontam para um cenário bastante preocupante para os próximos quatro anos: nenhum dos três deputados federais nikkeis conseguiram se reeleger. Em contrapartida, na Assembleia Legislativa a “perda” foi um pouco menor com a eleição do Coronel Nishikawa (PSL), eleito com 23.094 votos e Márcio Nakashima (PDT), que obteve 38.081 votos. Já o desempenho na Câmara dos Deputados foi um dos piores dos últimos anos. A partir de 2019, o único “representante” nikkei na Câmara dos Deputados será o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri (DEM), que em sua conta no Facebook afirma gostar de “onigiri”.

A situação em São Paulo “sensibilizou” até mesmo o agora reeleito deputado federal do Paraná, Luiz Nishimori (PR). Indagado pela reportagem do Jornal Nippak, o parlamentar disse que, “se convidado, vou estender a mão sem dúvida nenhuma em prol da maior comunidade nikkei do país”. Nishimori, que teve 73.344 votos e será o único representante nikkei do Estado já que os 53.466 votos obtidos por Takayama não foram suficientes para reelegê-lo, afirmou que fará “de tudo” para fortalecer ainda mais a relação Brasil-Japão.
“Estarei à disposição da comunidade nikkei também de São Paulo”, disse o parlamentar, que considerou esta eleição “diferente” e “silenciosa”. “Foi uma eleição das redes sociais, mas, mais uma vez marcada pela democracia onde os ventos sopraram a favor das mudança e da renovação”, disse Nishimori, que no segundo turno já declarou apoio ao candidato Jair Bolsonaro, com quem, aliás, esteve no Japão em fevereiro deste ano.
“101% Bolsonaro” – “A vitória dele no Japão, com quase 80% da preferência dos eleitores, mostrou que a viagem surtiu efeito. A vitória do Bolsonaro no segundo turno ficará muito bem para o Brasil e para as relações com o Japão. Ele já mostrou que é a favor da democracia e não quer o comunismo no Brasil”, afirmou Nishimori, acrescentando que agora “sou 101% Bolsonaro”.
Para o deputado federal Walter Ihoshi, que buscava seu quarto mandato, esta eleição acabou confirmando o crescimento de votos brancos, nulos e abstenções. Mas não foi o único motivo para sua não reeleição.
Quebra de votos – Com o “efeito Bolsonaro”, Ihoshi teve uma queda de cerca de 22 mil votos em relação à eleição de 2014, quando obteve 88.070 votos e ficou com a primeira suplência da coligação – assumiu o mandato em 2015 – contra 66.428 no último domingo. Segundo ele, as estimativas iniciais davam conta que a coligação PSDB-PSD-DEM-PP teria 25 cadeiras na Câmara dos Deputados, mas acabou fazendo apenas 17. “Houve uma quebra de votos”, justifica Ihoshi, que agradeceu os eleitores que “participaram da nossa campanha e acrediataram no no nosso projeto”.
Em nota, o também deputado federal Junji Abe (MDB), que conseguiu 21.510 votos, destacou que “existe uma história de esforços e dedicação que não se resume no resultado das eleições e que guardo em minha alma”. “Forças divinas me embalam neste momento, que é triste, mas não tira o mérito de todas as batalhas que desenvolvemos e que daremos continuidade até o último dia do mandato”, explicou Junji, que, indagado sobre o futuro costuma responder que: “o futuro a Deus pertence”.
Seu filho, o vice-prefeito de Mogi das Cruzes, Juliano Abe (MDB), que disputou uma vaga à Assembleia Legislativa, afirmou que “nossa jornada participativa não se encerra”. Apenas a iniciamos mas através de um novo caminho. Agradeço a Deus, aos colaboradores, apoiadores, voluntários, a toda equipe de campanha por caminharem junto conosco. E digo que vamos continuar a nossa jornada. Com amor, verdade, dedicação”, afirmou.
Protesto – Para o vereador Aurélio Nomura (PSDB), que na terça-feira já havia retomado seu trabalho na Câmara Municipal de São Paulo, “o que a gente viu nessa eleição foi um protesto que já estava extremado de indignação das pessoas com a situação que o pais atravessa”.
“Os eleitores sinalizaram que qurerem, efetivamente, mudanças ao varrer boa parte daqueles políticos que estão aí. Os ares estão para mudança e espero e torço para que estas mudanças sejam positivas”, disse Nomura, que no segundo turno já declarou seu voto para o candidato Jair Bolsonaro, para presidente, e para João Doria (PSDB), ao governo do Estado de São Paulo.
Já o deputado estadual Hélio Nishimoto (PSDB), que obteve 51.914 votos nessa eleição contra 137.249 em 2014, considera “interesante” a disputa no cenário nacional e “passo a ser otimista em relação às mudanças necessárias, principalmente neste sistema arcaico e viciado e que dificilmente permite alguma mudança como o país está precisando”. “Por outro lado, os valores também vão de acordo com o que a gente acha”, disse Nishimoto, sem citar o nome de Jair Bolsonaro. No plano estadual, Nishimoto revelou que terá uma reunião esta semana com o candidato ao governo de São Paulo, João Doria “para sabermos as diretrizes”. “Mas vamos continuar empenhado para continuarmos o trabalho que o Geraldo Alckmin vinha desenvolvendo no Estado”, afimrou Nishimoto, que lamentou o fato de os candidatos do PSDB terem sido os mais prejudicados nesta eleição com o desempenho pífio de Alckmin como candidato à Presidência.
“O número de cadeiras do PSDB caiu de 19 cadeiras nesta atual legislatura para 8 na próxima”, diz ele, acrescentando que a comunidade nikkei também saiu perdendo nessa eleição. “A gente torce para que os representantes, de fato, representem a comunidade nikkei e continuem lutando pelos interesses políticos da comunidade”, ressaltou Nishimoto.

Nishikawa – Se depender de Paulo Nishikawa, ou simplesmente Coronel Nishikawa, a comunidade pode ficar tranquila. Pelo menos na Assembleia Legilsativa. “Desde que convidado, comparecerei aos eventos”, disse Nishikawa, lembrando que já foi presidente do Bunka de São Bernardo do Campo, “mas nos últimos anos estava meio afastado das atividades”.
Ex-chefe de Gabinete dos prefeitos Regionais da Aricanduva/Formosa e da Sé na gestão Kassab, Coronel Nishikawa disse que decidiu se candidatar pela primeira vez porque, assim como os brasileiros, “também não aguento mais a situação do país”. Esse foi um dos motivos. O outro foi a “feliz coincidência” de estar ajudando na campanha do candidato Jair Bolsonaro na região do ABC paulista, onde está desde 1968.
10 mil – De formação militar – é formado na Academia da Polícia Militar e se aposentou há 19 anos – Nishikawa disse que sabia que tinha chances de ser eleito porque “fui informado que a nota de corte do PSL era relativamente baixa se comparada aos demais partidos”.
“Falaram que se eu conseguisse 23 mil votos estaria dentro. E entrei com certeza que seria eleito”, disse ele, que foi eleito para o seu primeiro mandato como deputado estadual com 23.094 votos. “Gastei cerca de 10 mil na campanha. Só usei redes sociais e voluntários”, disse ele, afirmando que tem como principais bandeiras a segurança pública, saúde e educação. “A maioria dos brasileiros quer mudança. Ninguém mais aguenta a gasolina e o dólar a R$ 5,00. Ninguém suporta mais a carga tributária e a a corrupção”, explica o Coronel Nishikawa, cujos pais são da província de Gifu e é de uma família de cinco irmãos – dois homens, falecidos, e duas mulheres – sendo que uma está desde os cinco anos no Japão.

Marcio Nakashima – Outro nikkei que vai ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa é o advogado Marcio Nakashima. Diferentemente da maioria dos políticos, ele não considerou essa eleição “atípica”. “Foi, sim, uma eleição de mudanças. Quem não estava antenado nas transformações que a sociedade exige acabou ficando pelo caminho”, disse Marcio, que em 2014 se candidatou a deputado federal.
Para ele, quem apostou somente na campanha de ruas e na distribuição de “santinhos” se deu mal. “Essa campanha foi on-line, de Internet. As pessoas queriam ouvir propostas plausíveis”, disse Marcio, explicando que “ouvi muitas propostas absurdas”.
Irmão da advogada Mércia Nakashima – assassinada em em 2010 – Marcio conta que “rodei muito o Estado de São Paulo e identifiquei vários problemas”. “Nós temos várias propostas na área fiscal, na questão tributária e vou olhar muito carinho para a educação”, disse, afirmando que seu mandato será participativo. “Meu gabinete estará com as portas abertas para a comunidade nikkei. Ela pode não só contar comigo como também peço o seu apoio”, explicou Marcio Nakashima.
Candidatos Nikkeis à Câmara dos Deputados
Nome | Partido | Votos |
Amelia Naomi | PT | 38.2 |
Bete Otsu | PRB | 365 |
Carlos Japonês | PPS | 1.951 |
Comendador Clayton | PTB | 1.397 |
Edgard Sasaki | DEM | 15.08 |
Erika Nakashima | Avante | 283 |
Isa Soyama | PTC | 877 |
Ito | PATRI | 729 |
Junji Abe | MDB | 21.51 |
Kim Kataguiri (e) | DEM | 465.31 |
Koyu | Pros | 2.26 |
Lilian Yabiku | PSDB | 1.001 |
Mario Mizuno | Patri | 1.543 |
Naomi Yamaguchi | PSL | 5.905 |
Ota | PSB | 60.499 |
Paulinho Sassaki | PTB | 7.347 |
Pedro Kawai | PSDB | 12.957 |
Professor Mario Teruya | PT | 2.268 |
Roberto Farmacêutico | PR | 13.105 |
Sargento Narimoto China | Pros | 424 |
Silvana de Moraes | Psol | 838 |
Silvia Nakano | Pode | 846 |
Tani | DC | 435 |
Tomaz Kurashima | PV | 412 |
Vladimir Tanaka | PRB | 924 |
Walter Ihoshi | PSD | 66.428 |
Candidatos Nikkeis à Assembleia Legislativa/SP
Nome | Partido | Número |
Aurelio Nomura | PSDB | 39.464 |
Bruno Omori | Pode | 3.078 |
Caio Takeda | PSL | 5.357 |
Cel Nishikawa (e) | PSL | 23.094 |
Claudio Miyake | PSDB | 21.669 |
Cláudio Yutaka | Rede | 1.148 |
Delegado Sakashita | PHS | 6.999 |
Elisa Takahashi | Patri | 246 |
Fábio Sato | PSD | 24.228 |
Hélio Nishimoto | PSDB | 51.914 |
Jamil Ono | Patri | 31.157 |
Jooji Hato | MDB | 41.269 |
José Claudio Japonês | PC do B | 216 |
Juliano Abe | MDB | 19.26 |
Marco Tsuyama Cardoso | Rede | 545 |
Marcio Nakashima (e) | PDT | 38.081 |
Pedro Kaká | Pode | 24.541 |
Pedro Teruji | Psol | 2.487 |
Roberto Sekiya | PSB | 3.714 |
Ronald Tanimoto | Pode | 626 |
Rosely Kobayashi | PSB | 1.141 |
Stephany Nakamori | Avante | 325 |
William Sashida | PHS | 801 |